Moacir Silveira: Para aqueles que vivenciaram os anos de chumbo da ditadura militar esta é mais uma grande música que marcou época. “Viva Zapátria” foi composta por Sirlan Antônio de Jesus, com letra de Murilo Antunes. Esta canção foi incluída no LP “Profissão de Fé” (1979, Gravadora Continental), que contou com a participação de Flavio Venturini nos teclados e Beto Guedes no baixo, além dos músicos Crispim Del Castia, Robertinho Silva, Jamil Joanes, Toninho Horta, Helvius Vilela, Wagner Tiso, Mauro Senise, MPB-4 e Mauricio Einhorn. Sirlan e Murilo defenderam “Viva Zapátria” pela primeira vez no VII FIC, Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, em 1972, que foi lançada pouco depois em um compacto pela Som Livre. Dias antes da apresentação, a dupla havia sido “convidada” a explicar perante à Censura Federal, a razão daquele título, mas acabou convencendo os censores de que a inspiração havia sido um filme realizado em 1952, que possuía o nome “Viva Zapata”. Considerado uma das grandes revelações do festival, Sirlan obteve para a canção, apenas uma menção honrosa. Lembro-me bem de Sirlan, pois fomos colegas de trabalho, nos anos 60/70, na saudosa TV Itacolomi de Belo Horizonte, empresa dos Diários Associados. Naquela época era comum vê-lo a dedilhar seu inseparável violão e a cantarolar esta e outras belas composições de sua lavra. Graças a ele fiquei sabendo do famoso “Clube da Esquina”, do bairro Santa Tereza, em BH, de onde surgiram uma verdadeira geração de novos talentos como os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô), Milton Nascimento, Fernando Brant, Wagner Tiso, Tavinho Moura, Toinho Horta, Beto Guedes, Flavio Venturini, dentre outros. A letra desta canção pode parecer simples, mas cada frase é carregada de significados e sua mensagem de esperança e liberdade era um alento aos que viveram este período bicudo de nossa história. Vale lembrar que a carreira promissora do cantor e compositor Sirlan foi arruinada, por conta dessas perseguições por parte da censura. Após lançar o seu primeiro LP, que teve por título “Profissão de Fé”, Sirlan abandonou sua promissora carreira e, segundo soube, vive hoje da produção de gingles publicitários. E no momento em que um grande clamor popular toma conta do povo brasileiro, que ocupa as ruas do país em busca de seus mais básicos direitos, nada melhor do que rever e ouvir esta bela e atualíssima canção.
El Pueblo Unido Jamás Será Vencido
Performance Dâmia Dias
REGISTROS – Introdução
Canção Dedicada ao Sol
REGISTROS













Morto no Percurso
José Qualquer
Filho de Fulano de Tal
Vivia bem com a mulher
Mas vivia mal
Estudou que não foi normal
Passou
Mas, não teve fôlego
Para chegar ao final
Casado, pai de dois Zezinhos e uma Maria
Esperava apanhar um pezinho um dia
Sozinho, coitado
Matava a fome com a carpintaria
E não tinha tempo para a Engenharia
Queria ser Engenheiro de Estrada
Para segui-la aonde fosse
Para fugir de tudo ou nada
E José não dormia
E José se perdia
A ouvir a mulher, pobrezinha
Que à vizinha dizia inocente:
“Meu marido inteligente
estuda e ainda dá conta da gente”
E voltou Zé Carpinteiro
Sentava, crucificado
Trabalhando o dia inteiro
E bebia para esquecer
Tantas cruzes por poucos cruzeiros
E assim morreu Zé da Cruz
Numa vala da estrada
Aparando a enxurrada
E as pessoas que ali passavam
Não sabiam de nada
Que Zé da Cruz já foi gente também
Que Zé da Cruz já cedeu muito bem
Que Zé da Cruz já foi número que entrou no computador
Que Zé da Cruz já foi nome e até foi chamado de doutor
Zé da Cruz
Não faz mal
Que a vida vai ao além
E lá vai viver muito bem
Vai chegar salvo e são
São José
E a Cruz
Fica na Terra pra quem quiser
José Qualquer
Rui Montese
Tristeza e Alegria
Tristeza e alegria
Palavras que andam de parceria
Ambas são o traçado do nosso caminhamento
Uma busca a euforia
A outra cede ao sofrimento
É como o açúcar e o sal
Tudo com excesso é prejudicial
Ou tu ficas diabético
Ou tu viras bacalhau
Poesia é o tempero
O sabor da vida
Ela que nos leva a afinar e refinar
A arte nobre de viver
São esses ingredientes bem dosados
Uma pitadinha de tristeza
Uma pitadinha de alegria
Pronto: poesia
É como afinar violão
Onde o diapasão é a atitude divina
Mas não te preocupes meu amigo
Não é preciso ser poeta
Para entender dessas coisas
Um dia tu acertas
A própria vida te ensina
Dotada de uma providência imensa
Nos aceita, nos conduz
E nos fascina
Rui Montese
Poema do Mineiro
Conhecedor do solo profundo
Vai galgando pelo mundo
Cada pedra do caminho
De vazante a jusante
Coração fecundo
Céu aberto, arfante
Do ninho ostenta
A mais preciosa
Flor majestosa, cristalina em tudo
Ao cume voz estradeira
Chega logo alvissareira
Ao peito desse amigo de jornada
Não por prêmio costumeiro
Por medalha ou dinheiro
Mas, para ser mais companheiro
Em cada nova escalada
Dá conta do que te afronta
E volta de ponta a ponta
Ao leito dessa estrada
Ao se ver entrelaçado
De rochas por todo lado
Pesquisa com maior cuidado
Textura, dureza, clivagem
E vai ver, da sua imagem
Reflete maior beleza
De um tesouro que rola, cada vez mais fundo
Com toda sua riqueza
Que não reluz para quem o procura
Apenas, espera, onde encerra
Que seja encontrado
Rui Montese
Flertando no Bar
Meninas singelas
Cabelos cacheados
Ambas tão belas
Perfis aquilinos
Lábios rosados
Pudéssemos nós, poetas
Revermos esta imagem
Estaríamos tão certos
De não ser miragem
Cantaríamos a beleza
Com tanta emoção
Que elas teriam a certeza
De terem flechado
Com olhar refinado
E sorriso faceiro
Os corações de dois bandoleiros
Rui Montese
