Morto no Percurso

José Qualquer
Filho de Fulano de Tal
Vivia bem com a mulher
Mas vivia mal

Estudou que não foi normal
Passou
Mas, não teve fôlego
Para chegar ao final

Casado, pai de dois Zezinhos e uma Maria
Esperava apanhar um pezinho um dia
Sozinho, coitado
Matava a fome com a carpintaria
E não tinha tempo para a Engenharia

Queria ser Engenheiro de Estrada
Para segui-la aonde fosse
Para fugir de tudo ou nada

E José não dormia
E José se perdia
A ouvir a mulher, pobrezinha
Que à vizinha dizia inocente:
“Meu marido inteligente
estuda e ainda dá conta da gente”

E voltou Zé Carpinteiro
Sentava, crucificado
Trabalhando o dia inteiro
E bebia para esquecer
Tantas cruzes por poucos cruzeiros

E assim morreu Zé da Cruz
Numa vala da estrada
Aparando a enxurrada

E as pessoas que ali passavam
Não sabiam de nada

Que Zé da Cruz já foi gente também
Que Zé da Cruz já cedeu muito bem
Que Zé da Cruz já foi número que entrou no computador
Que Zé da Cruz já foi nome e até foi chamado de doutor
Zé da Cruz
Não faz mal
Que a vida vai ao além
E lá vai viver muito bem
Vai chegar salvo e são
São José

E a Cruz
Fica na Terra pra quem quiser

José Qualquer

Rui Montese

9 respostas para “Morto no Percurso”

  1. Afff, Rui, o que estamos passando nesse momento está nos corroendo e nos matando aos poucos.
    “Qualquer semelhança não é mera coincidência”!
    Muito bonita a sua fala, apesar de muito triste! Grande abraço, amigo poeta, e mais um grande abraço, poeta amigo!

    1. Oi Felícia querida! Estamos trilhando um caminho árduo no qual haveremos de resistir com fé, esperança e amor. Pelo os que partem aumenta nosso compromisso de luta. Nosso coração pulsa junto, ninguém solta a mão de ninguém! 🤝❤️ Meu abraço com carinho!

  2. Rui, como dizia Vinicius de Morais a poesia vive da tristeza, e eu digo,
    os poetas são instrumemtos dessa belezas que enchem os nossos corações. Obrigado amigo por existir e eu ter convido com vc durante durante esses anos idos..
    Abraço
    Cida Rocha

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