Seguindo em Frente

        De mãos nos bolsos
        Vou caminhando, assoviando
        Minha auréola de artista esta brilhando

        A beira da calçada
        Está me convidando para assentar
        Se eu parar esta vontade me devora
        Mas, uma força que é maior
        Me puxa pela estrada afora

        Descontraído
        Sem dar ouvidos
        Ouço os grilos que me vão passando
        Não quero trilhas
        Sigo a estrada
        Que me vai levando

(Rui Montese)

Mulher

Essa força, essa delicadeza, esse mistério.
Viva a Mulher, que nós outros nos dobramos aos seus pés.
Por quem nos tornamos amáveis e amantes.
Responsáveis são por nossa alegria ou tristeza.
E assim o futuro está nas suas mãos, onde buscamos ser Reis (não mais estúpidos) somente por elas eleitos.

Rui Montese

Apelo

Embora não sejamos mais
Importa que sejamos tais

Discordo que estamos jazz
Nem jaz

Concordo que busquemos paz
Estamos sós
Precisamos desfazer os nós

Se o amor já ficou para trás
Por causa de algum Satanás
Imploro que amemos mais

Minuto a minuto
Diário, sem ranço
Anual, mensal, semanais

Não vamos ficar no cais
Vamos viajar, voar, feito “Ás”
E beijar, beijar, beijar, beijar
Nunca é demais

Rui Montese

Reconheço

Para quem queria se perder no mundo
Não é o meu caso
Não parto
Fico
Reflito
Caso

Queria um prato fundo
Deram-me um prato raso
“Apontei para a lua
Enxergaram-me o dedo”
Lancei-me na rua
Me botaram medo

Não é culpa sua
Nem minha
O alçapão nos espreita
E nos caça
E não deixa que voe o passarinho fujão

Agora não me rechace
Não me aluda ao tédio
Me acuda
Me ame
Me abrace

Sem palavras pra me honrar
Te beijo uma desculpa que não cola
E me lembro
Que “as mais belas manhãs de minha vida
Perdi-as nos bancos de uma escola”

Aprendendo apenas ser um trabalhador
Um homem sem cultura
Um vulgar doutor

Nota: As frases entre aspas são citações do meu professor Mauro durante as aulas na Especialização Transporte, na Escola de Engenharia da UFMG, que me inspiraram a criar esta poesia.

Rui Montese

Amor Sublime

Pode você ainda crer no amor?

Como não, Senhor!

Se é ele a escada de nossa vida
Fruto dele surgimos
Com ele existimos e persistimos
E se dele fugimos
Destruímos tudo que construímos

É a existência tão nobre e tão sublime?

Como não, Senhor!

Se de vossa própria existência almejamos nossa vida
Somos galhos na escuridão procurando o sol
Em busca de saída

Valerá o tesouro de tantas horas cruzes?

Como não, Senhor!

Se fitamos em vós o nosso tesouro
E fostes vós mesmo o exemplo de sofrer e suportar
Como a árvore frágil suporta o forte vento
E a praia calma suporta o bravo mar

E como suportar o amor?

O amor é o seu próprio suporte
Haure de si mesmo e em si mesmo se consome
Suportá-lo é sorver de si
Quanto emanar em si

Sim, você ainda pode crer no amor!

Como não, Senhor!
Como não, Senhor!

Rui Montese

Ressurgir

Um rio que pode entornar
A noite que pode cair
Um morro que pode vazar
Um morto que pode surgir
E daí?… E daí?…
       
Daí que se um morto voltar
Um outro vai querer lhe imitar
Mais outro sem corpo a bradar
Quero também ressurgir
E daí?… E daí?…
       
Daí que eu também vou gritar
Não quero daqui mais sair
Se todos já querem voltar
Porque daqui vou fugir

Rui Montese

Deu-os

Para chegar ao apogeu
O artista sabe bem
Quem lhe deu força
E quem não lhe deu

Mas aquele que não lhe deu
Não é inimigo seu
É apenas um desacreditado
Que não se convenceu

E aquele que lhe deu força
Lhe deu na medida de sua fé
Ou do coração seu

Coração e fé
Juntos podem até
Mover este mundão de Deus

Rui Montese

Vida

Sal na terra
Sol na flor
Chuva, raio
       
Pingo d’água
Movimento
Move o vento
       
Rola a pedra
Surge a era
Quente
Frio
       
Uma volta
Outra volta
Seca
Molha
       
Tempestade
Se revolve
Se revolta
Paciência
       
Passa o tempo
Muda a era
Sal na terra
Sol na flor
      
Anoitece
Esfria
Esquenta
Amanhece
Vida sou

Rui Montese

Morto no Percurso

José Qualquer
Filho de Fulano de Tal
Vivia bem com a mulher
Mas vivia mal

Estudou que não foi normal
Passou
Mas, não teve fôlego
Para chegar ao final

Casado, pai de dois Zezinhos e uma Maria
Esperava apanhar um pezinho um dia
Sozinho, coitado
Matava a fome com a carpintaria
E não tinha tempo para a Engenharia

Queria ser Engenheiro de Estrada
Para segui-la aonde fosse
Para fugir de tudo ou nada

E José não dormia
E José se perdia
A ouvir a mulher, pobrezinha
Que à vizinha dizia inocente:
“Meu marido inteligente
estuda e ainda dá conta da gente”

E voltou Zé Carpinteiro
Sentava, crucificado
Trabalhando o dia inteiro
E bebia para esquecer
Tantas cruzes por poucos cruzeiros

E assim morreu Zé da Cruz
Numa vala da estrada
Aparando a enxurrada

E as pessoas que ali passavam
Não sabiam de nada

Que Zé da Cruz já foi gente também
Que Zé da Cruz já cedeu muito bem
Que Zé da Cruz já foi número que entrou no computador
Que Zé da Cruz já foi nome e até foi chamado de doutor
Zé da Cruz
Não faz mal
Que a vida vai ao além
E lá vai viver muito bem
Vai chegar salvo e são
São José

E a Cruz
Fica na Terra pra quem quiser

José Qualquer

Rui Montese