Estrela do Céu

Depois que fitei os olhos teus
Estrela do céu
Senti uma leveza nos meus
           
Depois que beijei teus lábios de mel
Sorvi da beleza
Meu corpo do teu se embebeu
               
E por deixares me afagar nos seios teus
De medo de o amor refugar
Sofri com o horizonte do adeus
               
E nunca mais me desprendi
De te alcançar
Estrela do céu
E te embalar
No sonho meu

        Rui Montese

Blog do Montese

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Manhã Linda de Sol

Minha Manhã em Prosa e Verso

Há  certos momentos em que a vida se faz mais  presente  e nós a sentimos com mais fervor. É o momento em que o poeta  colhe uma  inspiração,  o jardineiro admira seu jardim, o  filósofo  se compara  as estrelas e desliza suavemente seu pensamento para  um riacho  tímido que, humildemente, contorna as pedras. Como se  se sentisse tão grande e tão distante dos homens ao apreciar  coisas tão  pequenas. É o amor que se faz notar no gotejar da  água  que escapa  de um cano. Talvez por lembrar as batidas do  coração  ou simplesmente  a ideia de movimento e quem sabe senão  a  sensação de  liberdade. É o amor que se faz notar na manhã que poderá  ter sido  mais  bela,  porque  o que a caracteriza  é  justo  a  sua presença,  surgindo com um bocejar quentinho, anunciando:

“Estou aqui”.

Já sou filho desta manhã e sinto despertar em mim o poeta, o  jardineiro,  o filósofo… Embebido neste paroxismo  afasto  a imagem  de  filho  e  me atrevo em colocar-me  a  sua  altura.  E exclamo:

               Manhã linda de sol
               Eu saí pra te ver
               Manhã linda de sol
               Quero casar com você

E  ela  me confessa, naquele cheirinho de  terra  molhada, enquanto eu ainda dormia, ter-se fechado em pranto. Eu a consolo:

               Manhã linda de sol
               Se te vejo chover
               Manhã linda de sol
               Só me vejo sofrer

E  me lembro daquela longa temporada de inverno quando  me sentia  prisioneiro, prisioneiro da chuva. Mas, não  negava  sua utilidade.   E  pensava:  esta  chuva,  ainda  que  fria,   quase intolerável, que cai como soldados cercando um Forte e arrasta na leve enxurrada a esperança de rever o sol, cessará por fim e  ela mesma fará florescer uma linda primavera e mais linda no  momento em que surge. E outros invernos virão e outras primaveras também, estou  sempre  pronto a recebê-los. Sonho com o futuro  e  amo  o presente. Belo é caminhar numa estrada e fitar o  horizonte, mais  belo e confortante é notar que  existem  flores  no caminho. Em meio a esta divagação outros versos nascem:

               Manhã linda de sol
               Quem me vê com você
               Pensa que estou sozinho
               Pois não pode entender
               Que tenho seu carinho

               Manhã linda de sol
               Nosso véu é o céu
               Nossa lua é de mel
               Nossa vida é ao léu

Acabo de fazer uma poesia e me delicio em repetir  aqueles versos.  Eis  que,  um  vil pensamento  numa  frase  me  corta  a garganta:  -Neste mundo de números e máquinas:

“Somente os  ociosos têm  tempo  para  divagações”. (Lembro do Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry)

Se esta poesia  e  outras  não  se converterem  em  dinheiro nada valerão. Mas, um pensamento  mais incisivo  me  enaltece:

O verdadeiro valor de um  poeta  está  na grandeza  de  sua imaginação e não no ouro que a reflete.

Mais uma vez Saint-Exupéry me vem à memória:
“Na verdade quem luta apenas na esperança de bens materiais não colhe nada que valha a pena viver”.

O  passado é o rastro de uma bagagem adquirida, se  amanhã eu  morrer  não vai me faltar o peso das relações  humanas  e  já terei  adquirido  muita coisa e muitos serão os que  seguirão  os meus passos e isto me traz a certeza:

Não morrerei vazio.

Rui Montese

Festival de Artes e Cultura da Reforma Agrária -Serraria Souza Pinto, Belo Horizonte/MG – 2016

https://gramho.com/media/1637452766875245462 Crédito: @ladanfoto
Registro: LADANFOTO

Reformação

Não, não pode ser irmão
De quem quer te jogar no chão
Se te puxa te arranca o braço
E te chucha o coração

Tava eu na minha gleba
Bem cuidando do roçado
Quando veio lá da cidade
Tanto mal desenfreado

Plantei, rocei
Feijão e trigo
Já guerriei
Por meu abrigo

Deixei a casa
Com cinco fio
Pra minha dona
Só disafio

Perdi a faca
Corri pro rio
Entrei na mata
Morri no trio

Com força braba
Me esquartejaro
Furaro os óio
E me rasgaro

Autor: Rui Montese