Morto no Percurso
José Qualquer
Filho de Fulano de Tal
Vivia bem com a mulher
Mas vivia mal
Estudou que não foi normal
Passou
Mas, não teve fôlego
Para chegar ao final
Casado, pai de dois Zezinhos e uma Maria
Esperava apanhar um pezinho um dia
Sozinho, coitado
Matava a fome com a carpintaria
E não tinha tempo para a Engenharia
Queria ser Engenheiro de Estrada
Para segui-la aonde fosse
Para fugir de tudo ou nada
E José não dormia
E José se perdia
A ouvir a mulher, pobrezinha
Que à vizinha dizia inocente:
“Meu marido inteligente
estuda e ainda dá conta da gente”
E voltou Zé Carpinteiro
Sentava, crucificado
Trabalhando o dia inteiro
E bebia para esquecer
Tantas cruzes por poucos cruzeiros
E assim morreu Zé da Cruz
Numa vala da estrada
Aparando a enxurrada
E as pessoas que ali passavam
Não sabiam de nada
Que Zé da Cruz já foi gente também
Que Zé da Cruz já cedeu muito bem
Que Zé da Cruz já foi número que entrou no computador
Que Zé da Cruz já foi nome e até foi chamado de doutor
Zé da Cruz
Não faz mal
Que a vida vai ao além
E lá vai viver muito bem
Vai chegar salvo e são
São José
E a Cruz
Fica na Terra pra quem quiser
José Qualquer
Rui Montese