Letras (O Voo dos Gansos)

CASCO DE BOTA (Rui Montese)

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Sentada lá na varanda
Contava as horas para eu passar
Falavam lá na quitanda
Que ela estava a me esperar

E eu um casco de bota
Não dava ouvidos ao povo hablar

Na missa todo domingo
Sentava à vista do meu olhar
Virava mostrando o brinco
Como se fosse a me convidar

E eu um casco de bota
Só dava ouvidos ao padre hablar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

De noite lá na festança
Rodopiava para eu notar
Um gajo da segurança
Falou vai com a moça dançar

E eu um casco de bota
Não dei ouvidos ao gajo hablar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Um dia criei coragem
Passei na venda do Valdemar
Falei pinga para todos
Hoje eu é quem vou pagar

E eu um casco de bota
Bebia tanto sem nem notar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Sentada lá na varanda
Um belo gajo a lhe cortejar
Beijando virou as costas
Quando na rua me viu passar

E eu um saco de bosta
Caí no chão a me embebedar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Falavam lá na quitanda
Que esta paixão ia me matar
Procure a dona Vanda
Que ela pode te ajudar

E eu um casco de bota
Levei um ano pra procurar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Me deu sete descarrego
Dois banho de rosa para eu tomar
Falou de um novo emprego
E a mulher que eu ia casar

E eu um casco de bota
Fui dar ouvidos a dona hablar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Comprei duas alianças
E com o pai dela fui conversar
A mãe muito educada
Falou minha filha já vai casar

E eu um casco de bota
Não dei ouvidos à mãe hablar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Falei ôh seu Valdomiro
A Rosa vai comigo morar
Já falei com o seu vigário
E a festança já vou marcar

E eu um casco de bota
Não dei ouvidos ao pai hablar

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

Me levou para o terreiro
Com a garrucha a me apontar
Vai embora cachaceiro
Senão eu tenho que lhe matar

E eu um casco de bota
No meu ouvido quis atirar
E eu um casco de bota só tenho ouvidos no AAA

Que raiva de mi
Por que não procurei a ti

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MENINO TRAVESSO (Rui Montese)

Lá vai o menino travesso
Puxando a menina travessa
Arapuca na cabeça
Aconteça o que aconteça

Levando a menina pro mato
Vai pensando no caminho
Passarinho, desacato
Vai fazer perder seu ninho

Passa beira de regato
Passa roda de carrinho
Passa trilha de lagarto
Passa ponta de espinho

Que menino foi pro mato
Cai na boca de vizinho
Brincadeira vira ato
Se soltar seu passarinho

“Maria fecha a porta que o boi envém”
Não deixa pisar a horta que não convém
“Menina das pernas tortas mamãe não gosta”
Não dá, brincadeira, aposta, pra mais ninguém

Pererê Pererê Pererê Pererê
Pererê Pererê Pererê Pererê

“Maria fecha a porta que o boi envém”
Não deixa pisar a horta que não convém
“Menina das pernas tortas mamãe não gosta”
Não dá, brincadeira, aposta, pra mais ninguém

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GAROTINHA DE 20 ANOS (Rui Montese)

Garotinha de 20 anos
Eu não sei quais são seus planos
Mas, para mim foi desengano
Lembre que nós dois tratamos
Você me deixou esperando

Agora não quero mais
De mim não vai rir por trás
Você se sente sagaz
Eu me sinto muito mais

O amor é coisa bonita
Não é para desperdiçar
Ganhei um laço de fita
Que se desfez ao puxar

Mas, não adianta dar nó cego
Se não é para amarrar
Nem adianta bater prego
Se o prego não quer entrar

Adendo:
Agora estou beleza
De bem com a vida
E com a natureza
Já nem me lembro mais de você

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ABNEGAÇÃO (Rui Montese e Orlando Arcanjo)

Para chegar a mim
Não há uma só maneira
Não basta um só beijo
Uma só canção

Fitar ao olhar sem fim
Furtar-se ao coração
Perder-se enfim
Ceder-se ao chão

Qual prenda da natureza
Se tem a certeza de seu lugar
É nobre a pompa de se outorgar
A pobre afronta de se vingar

Louvor, clemência
Abstinência, a dor, ofensa
Obstinada é mais propensa
A se entregar

De um grito forte
As mãos nas vísceras
A prole, feras hão de vergir

Das mães sinceras
Da oculta espera
Que vão cobrir

De outro a cólera
De outras horas, passadas
Razão, escora, pousada
Só amou
Mais nada

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CANÇÃO DE FAZER DÓ (Rui Montese)

Vê só
Quanta tristeza no meu peito
Dói desfeito de ilusão
Como é que teve jeito
Para armar e tão bem feito
Pra maltratar meu coração

Eu não pensava que um dia
Eu ia entrar nesse alçapão de dor
E ser levado nem sonhava
Pela ilusão do amor

Agora só eu me pergunto
Valeu assim me entregar?
Eu entendi que viver junto
Não é se anular

E veja só
Meu coração ficou só
Virou peão ao seu redor
Virou canção
Em sol, em fá, em tom menor
Virou canção de fazer dó

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FUNDO DE QUINTAL (Rui Montese e Rogério Salgado)

Vêm brincar comigo
Neste fundo de quintal
Vem brincar comigo
Vem, vem, vem.

Onde o bem e o mal
Se encontram neste sonho
Vem brincar comigo
Vem, vem, vem.

E então eu te proponho
Menina, brincar no quintal
Feito criança que encontra
O brinquedo no amigo.

(Repete toda)

Vêm brincar comigo
Neste fundo de quintal
Vem brincar comigo
Vem, vem, vem.

Retornar a nossa infância
E voltar a ser criança.

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O FIM DO INFERNO (Rui Montese)

Eu era um cara danado
Que não se importava com nada
E tinha na minha mente
Um rock da pesada

Na segunda vez saltar as duas estrofes seguintes:

De dia eu quebrava as vidraças
De noite corria dos home
Botava fogo na praça
Na cela marcava o meu nome

Eu era o rei da desgraça
Imperador do alvoroço
Vivia fazendo trapaça
Vendia droga pros moços

Entrei na missa do padre
Mandei todo mundo pecar
Passei a mão nas cumadre
Joguei as calcinhas pro ar

Sacava da minha garrucha
Fazia as coroa dançar
Botava os brotinhos na fila
Para chupar meu mamá

Cadeia pra mim era hotel
Açougue era suco de uva
Mandava os mininos pra rua
Botava os velhinhos na chuva

D.C.

Final:

Eu era o rei da desgraça
Imperador do alvoroço
Vivia fazendo trapaça
Vendia droga pros moços

De dia eu quebrava as vidraças
De noite corria dos home
Botava fogo na praça
Na cela marquei o meu nome

Esta é a história de um sujo
Que queria o mundo ajudar
Entregou a alma ao diabo
Para no inferno entrar

Falei com o chefe da área
Que com ele queria apostar
Rezar 5 terços por dia
E não se purificar

Aleluia, aleluia, aleluia ( 2 vezes)

E nesse jogo de aposta
Mandei os demônio rezar
Aceitaram o meu desafio
E com a cruz matei Satanás

Show A PANDEMIA (VAI PASSAR)

Rui Montese apresenta o Show “A PANDEMIA (VAI PASSAR)”. Em momento tão difícil que estamos vivendo, o artista escolheu esse tema como forma de utilizar sua capacidade artística para uma causa que é de todos nós, para uma reflexão sobre o que estamos vivendo, o sofrimento, a agonia, a solidão. Mas ao mesmo tempo canaliza a necessidade de resistirmos, sermos solidários e acreditarmos que podemos vencer essa dificuldade tamanha, reforçando assim a nossa fé, o nosso amor, a nossa esperança. E a certeza que teremos um novo despertar onde nos ergueremos seres humanos melhores do que temos sido, fazendo prevalecer o amor à natureza, ao próximo (e ao não próximo). Roteiro: 1. Momentos difíceis nos levando a uma tristeza profunda. Música: Devaneio – Autor: Rui Montese 2. De repente somos movidos pela força do amor e da fé. Poesia: Amor Sublime – Autor: Rui Montese Fundo musical: Trecho da música Luz (minueto composto para seu filho Lucas) – Autor: Rui Montese 3. Música: A Pandemia (Vai Passar) – Autor: Rui Montese 4. Percebendo a natureza, a arte e a cultura como bens fundamentais para vencer o mal. Música: Despertar – Autor: Rui Montese Gravação e edição: Estúdio LMRM


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Mulher

Essa força, essa delicadeza, esse mistério.
Viva a Mulher, que nós outros nos dobramos aos seus pés.
Por quem nos tornamos amáveis e amantes.
Responsáveis são por nossa alegria ou tristeza.
E assim o futuro está nas suas mãos, onde buscamos ser Reis (não mais estúpidos) somente por elas eleitos.

Rui Montese

Apelo

Embora não sejamos mais
Importa que sejamos tais

Discordo que estamos jazz
Nem jaz

Concordo que busquemos paz
Estamos sós
Precisamos desfazer os nós

Se o amor já ficou para trás
Por causa de algum Satanás
Imploro que amemos mais

Minuto a minuto
Diário, sem ranço
Anual, mensal, semanais

Não vamos ficar no cais
Vamos viajar, voar, feito “Ás”
E beijar, beijar, beijar, beijar
Nunca é demais

Rui Montese

Reconheço

Para quem queria se perder no mundo
Não é o meu caso
Não parto
Fico
Reflito
Caso

Queria um prato fundo
Deram-me um prato raso
“Apontei para a lua
Enxergaram-me o dedo”
Lancei-me na rua
Me botaram medo

Não é culpa sua
Nem minha
O alçapão nos espreita
E nos caça
E não deixa que voe o passarinho fujão

Agora não me rechace
Não me aluda ao tédio
Me acuda
Me ame
Me abrace

Sem palavras pra me honrar
Te beijo uma desculpa que não cola
E me lembro
Que “as mais belas manhãs de minha vida
Perdi-as nos bancos de uma escola”

Aprendendo apenas ser um trabalhador
Um homem sem cultura
Um vulgar doutor

Nota: As frases entre aspas são citações do meu professor Mauro durante as aulas na Especialização Transporte, na Escola de Engenharia da UFMG, que me inspiraram a criar esta poesia.

Rui Montese